O Que se Conta Daqui...

Pra quem gosta de escutar ou criar causo... Bem vindos! Tatiana Baruel e Érica Turci

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Local: São José dos Campos, São Paulo, Brazil

quarta-feira, novembro 08, 2006

O Barqueiro da Meia-Noite


Depois que a Padroeira deu um jeito na Cobra Grande, a cidade ficou um bom tempo sem ter reboliço. O povo voltou a usar o rio como sempre, para pescar, nadar, lavar roupa e dar uns passeios.

Ainda não existia ponte em Jacareí e as pessoas precisavam dos barcos para passar de um lado ao outro do Paraíba.

Numa ocasião, começou a aparecer um Barqueiro, que na verdade, era uma alma penada.
No começo só os animais perceberam a assombração e toda vez que ela passava de barco era aquela barulheira agoniada de cachorros e cavalos.

O Barqueiro aparecia sempre depois da meia-noite, nas noites de nevoeiro. Naquele tempo fazia mais frio que hoje, por isso, era muito comum ver a neblina que vinha das serras e descia até o rio parecendo uma correnteza branquinha.

O Barqueiro do além começou a ser reconhecido porque aparecia todas as segundas, quartas e sextas-feiras de neblina (nos outros dias o povo não sabia onde ele remava). E sempre gritava:

- Oi, passagem!

Esse era o sinal para o povo que estava por ali correr e escapar da
assombração.

Dizem que numa festa de São Gonçalo, dois compadres e uma comadre foram buscar água no rio e escutaram o Barqueiro gritando:

- Oi, passagem!

Um dos compadres, que era um sujeito saliente, respondeu:

- Se você for homem passe pra cá!

Foi aí que eles ouviram um barulho de gente caindo na água e quando
olharam, não puderam acreditar! A assombração veio correndo atrás dos três compadres, por cima da água, e eles saíram tão avoados que esqueceram até da lamparina na beira do rio...

Quando chegaram perto do terreiro de São Gonçalo, o Barqueiro sumiu e no mesmo segundo eles escutaram de novo uma voz, lá do outro lado do rio:

- Oi, passagem!

A assombração foi ficando cada vez mais ousada. Numa noite, durante o velório de sua filha, Seu Quinzote ouviu lá do outro lado do rio alguém gritar:

- Oi, passagem!

Seu Quinzote que ainda não conhecia o Barqueiro, pensou que
era seu amigo Juvenal querendo atravessar o rio. Então desceu a barranca e foi remando para encontrar com o amigo, mas quando chegou do outro lado, uma coisa muito pesada pulou e quase afundou sua canoa.

O homem chegou em casa branco e ficou três dias mudo. Depois que recuperou a fala, contou que um barqueiro enorme tinha pulado na sua canoa e disse:

- O que te salva são essas suas rezas.

A partir deste acontecido, Seu Quinzote passou a ouvir todas as noites a assombração gritando no Paraíba. Para não ser mais incomodado, resolveu mudar pra um morro bem longe do rio.

O tempo foi passando e o Barqueiro começou a aparecer em qualquer noite, não só segundas, quartas e sextas. Além disso, ele pegou gosto em chupar o sangue dos cachorros e também mudou o grito. Ao invés de pedir passagem, ele anunciava:

- Ói quem vem lá!

E aí, a pessoa tinha que responder um determinado nome (que era o nome do Barqueiro) porque isso significava que ela não tinha medo dele, sabia com quem estava lidando e não ia entrar no barco assombrado.

Quem não sabia responder o nome dele era levado para o mundo das
almas penadas.

Dizem que os mais antigos conhecem o nome do Barqueiro, mas não revelam para que ele não volte a assombrar o Paraíba.