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Pra quem gosta de escutar ou criar causo... Bem vindos! Tatiana Baruel e Érica Turci

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quarta-feira, novembro 08, 2006

As Façanhas do Leitão


Dos muitos homens que passaram por aqui, um resolveu ficar e acabou fazendo fortuna. Esse homem foi João da Costa Gomes Leitão, que veio de Portugal e começou a ganhar dinheiro como tropeiro, fazendo transporte de mercadorias em lombo de burro. Depois de um tempo, ele começou a plantar café, o produto mais importante do Brasil naqueles meados de 1800.

Em 1850, foi proibida a chegada de novos escravos no Brasil. Leitão percebeu logo que vender escravos poderia ser um ótimo negócio, se ele soubesse driblar a Lei. E foi assim que ele fez a sua riqueza, como traficante de escravos.
O coronel enriqueceu e construiu dois casarões, o luxuoso Solar Gomes Leitão, onde ele dava festas e a residência onde ele morava com sua família. Na verdade, coronel mesmo ele não era, mas foi chamado assim porque tinha muito dinheiro e poder.

No Solar, o coronel dava banquetes para os donos de fazendas e os nobres da região, dizem até que D. Pedro II se hospedou lá.

O certo é que o Leitão usava essas festas como desculpa para vender escravos, por baixo dos panos. Entre uma música e outra, ele e os fazendeiros davam uma escapada e negociavam os escravos que ficavam escondidos nos porões do casarão.

De tão rico, o Leitão tinha um banco dentro do Solar e emprestava dinheiro para os seus parceiros e até para o governador da Província. O coronel financiou também um trecho da estrada de ferro “D. Pedro II” que passava pelo Vale do Paraíba e sustentou a família de cento e vinte jacareienses que lutaram na Guerra do Paraguai.

Mas o feito mais impressionante desse homem foi desviar o leito do rio Paraíba. Aliás, até hoje tem gente que acha lorota essa história, mas ela aconteceu mesmo.

O motivo do desvio não se sabe direito. Uns falam que foi para levar água mais perto das plantações do Leitão, outros falam que foi para afastar o rio do Solar e evitar as inundações nas cheias. E alguns dizem que ele fez isso só pra provocar o Barão de Jacareí, outro ricaço da época.
Naquela ocasião, o rio passava ao lado do Solar e bem atrás da Matriz e da Santa Casa, que tinha acabado de ser construída.

Quando correu o boato que o Leitão queria mudar o curso do rio, muita gente esbravejou. O povo chiou pois tinha medo que o negócio desse errado e as águas alagassem Jacareí. E alguns nobres protestaram porque não se bicavam com o Leitão.

Dizem que o estopim dessa história foi num jantar onde o Barão de Jacareí e o Leitão se encontraram, na Rua Direita. O Barão fez chacota do coronel dizendo que ele jamais conseguiria mudar o traçado do rio. O coronel, que nunca levou desaforo pra casa, topou o desafio e retrucou:

- Eu não só vou fazer, como vai ser esta noite!

E o mais incrível é que ele fez...

O Leitão comandou a escavação do novo leito e mobilizou mais de trezentos escravos, que trabalharam pesado a madrugada toda.

A cidade dormiu com o rio de um jeito e acordou com ele de outro, todo mundo ficou de queixo caído.

O rio foi mudado para o lado esquerdo (pra quem está de costas pra sua nascente), na medida de 170 braças, uns 370 metros. E a curva que ele tinha antes de ser desviado aumentou em 1.000 metros.

Mas o serviço não saiu muito bem feito. E o resultado foi que o rio continuou transbordando e procurando o antigo leito.

Toda a região perto do Solar Gomes Leitão e da Matriz virou um brejão que muitos anos depois recebeu o nome de “Esmaga Sapo”. Dizem que quando os filhos do coronel atrapalhavam seu sossego, ele logo mandava as crianças pro brejo, dizendo:

- “Vai caçar sapo!”

E foi daí que surgiu essa expressão tão conhecida até hoje.

O que esse Leitão tinha de rico, tinha de ruim. O povo conta que ele enterrou viva uma das suas filhas dentro de uma parede do Solar. Parece que ele fez isso porque a moça queria se casar com um rapaz pobre, sem eira nem beira.

Mas a perversidade do coronel teve resposta.

Uma vez, caiu uma tromba d’água em Jacareí e ele se irritou muito porque a chuva não passava e iria atrapalhar sua plantação de café.

Bufando de raiva, o Leitão mandou seus escravos atirarem no céu para acertar Deus!

Os escravos se recusaram a fazer tamanha ofensa e então, ele pegou sua arma, saiu no terreiro e começou a atirar pra cima. Nesse instante, a terra se abriu e o Leitão foi engolido por ela.

Depois de tantos feitos e malvadezas, finalmente o coronel sucumbiu. Dizem que no dia do seu enterro colocaram dentro do caixão, no lugar do seu corpo, um talo de bananeira...


O povo conta que o Solar Gomes Leitão é mal assombrado até hoje e que a filha enterrada viva sempre desce as escadas do casarão, depois da meia-noite, com um vestido de festa. Além dela, as almas dos escravos ficam vagando pelos cômodos do Solar e arrastando correntes no chão.

A casa onde o coronel morava também é mal assombrada. No lugar onde ficava a senzala, já ouviram de madrugada alguns barulhos de pessoas conversando, cantando e dançando.

Na cidade ou na roça, Jacareí sempre teve muita assombração...

2 Comments:

Blogger Sou feliz na escola said...

Gostei muito deste texto, adoro causos e histórias. Conto sempre nas escolas que trabalho.

Até mais

Simone

23 março, 2012  
Blogger Tatiana Baruel said...

As autoras Tatiana Baruel e Érica Turci agradecem!

Abraços escalabrosos!

Corpo Seco de Jacareí - porta voz do blog

25 agosto, 2012  

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